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Contos do Miro Lopes

  • Foto do escritor: Estandarte Angrense
    Estandarte Angrense
  • 6 de nov.
  • 2 min de leitura
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Conta a lenda...

...que Wilson Simonal, um dos maiores ídolos da música popular brasileira, levou um tombo maior do que o próprio talento — e esse, convenhamos, não era questionado nem pelos críticos mais rabugentos. Caiu vertiginosamente dos píncaros do sucesso para a desgraça da perseguição humana.

 

Jovem, negro e pobre da periferia paulistana, Simonal, que viera tentar a vida no Rio como estafeta da agência de Carlos Imperial, jamais imaginaria que chegaria tão alto — construindo uma carreira elogiável, rápida e aparentemente sólida — e muito menos que levaria um tombo tão doloroso e irrecuperável.

 

Nos famigerados — e no mau sentido — anos sombrios da ditadura, foi acusado de colaborar com a repressão por causa de uma suposta amizade com agentes da linha dura, a quem teria pedido para “dar um sacode” em seu contador, suspeito de ter desviado alguns caraminguás da sua conta.

O ex-contador declarou ter sido torturado, e a imprensa encontrou um motivo perfeito para atacar o regime, fazendo de Wilson Simonal seu bode expiatório favorito.

 

Quanto à tortura do contador, a imprensa silenciou; quanto ao cantor, nada se comprovou, mas seu nome estampava, sempre, as manchetes dos jornais.

 

O destino foi cruelmente implacável com o regente do maior coral do mundo — o público que lotava suas apresentações no Brasil e no exterior. Cancelado, derrotado, deprimido, recolheu-se ao ostracismo.

 

...o que a lenda não conta

Duas histórias sobre Wilson Simonal — o rei do swing, da simpatia, do poder e algo mais — se seguem.

 

Intimados pelo jornalista João Bosco, meu parceiro das noitadas cariocas, Simonal e o filho da dona Toquinha, viemos com Jotabê passar o réveillon em Angra dos Reis, a convite do artista plástico Alex Teruz. Assistimos à lua brilhante emergir no horizonte, iluminar a noite e se exibir no espelho d’água. Muito papo, vinho, champanhe e petiscos servidos pela “Josephine Baker”, mulher de Alex — uma negra gaúcha com a elegância de uma manequim.

 

(...)

 

De volta ao Rio, organizava-se a torcida da La Maison para a Copa do Mundo de 1986, no México. Simonal, tremendamente “durango”, pediu que o levássemos. Combinado. Lá foi o grupo, liderado por Jorge Sessa e sua equipe, com duzentas camisas promocionais da academia — que seriam vendidas para recuperar o investimento da viagem.

 

Ao desembarcar, Simonal foi direto para o hotel, certo de que fecharia uma temporada — o que de fato aconteceu. O resto da tropa, porém, foi detido no aeroporto com as duzentas camisas da La Maison. Simonal foi a tábua de salvação.

 

Citado no depoimento do uruguaio Sessa, o delegado decidiu cobrar pedágio — cem camisas — e convocou Simonal para confirmar se ele realmente fazia parte da torcida.

 

Simonal — que também era ídolo no México — chegou. O policial fingiu não reconhecê-lo e pediu que cantasse para confirmar sua identidade. Simona pegou um violão e foi logo atacando: “Meu limão, meu limoeiro...”. E a delegacia inteira cantou junto.

 

Os mexicanos já haviam sido eliminados nas quartas de final.O grupo voltou com os campeões em quarto lugar. Simonal ficou, cantando no El Señorial, consolando os muchachos e muchachas...


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